terça-feira, 21 de agosto de 2018

Resposta

Na madrugada perguntei a ti meu Deus,
Posso sentir-me amada ao menos uma vez?
E na escuridão da noite um grande silêncio se fez.
Mas de repente se abre uma porta
Será possível que haja para a dor,
alguma resposta?
A mão estendida, uma surpresa contida,
Jamais um cartão brega,
que com voz tão terna
Fez o poema declamado,
Quase explodir meu coração.
E ainda nesse turbilhão,
Veio o riso escrachado,
o palavrão falado,
Carinho sem medida derramado num doce abraço apertado...
Com a luz cortada,
Ainda sonhando acordada,
Vem perguntar-me meu pai amado
Então filha, te sentes amada?
Ao que respondo eu, sem palavras,
Como nunca,
sim, meu Deus querido
Muito obrigada.

Onde


O silêncio abundante na total escuridão, 
No quarto vazio, no corpo doído,
também no coração.
a madrugada fria, perdida.
Assim era a tarde que me acontecia
Eu esperava por ti
Tu não vinhas, 
Tardavas
E eu entardecia
Como o virar da ampulheta
Contando o grão de areia
Presa no tempo, no espaço fechado
De um coração ferido
Talvez ilhado.
Procurei-te por todos os lados
Nos bosques, na bruma dos lagos
Teus olhos sem vida, sem culpa,
embaçados. 
Sorriso fosco, sem brilho
Sem hálito
Tuas mãos frias evitando tocar-me


Reflexo no espelho

Às vezes sinto tanta saudade que chega a doer,
fico pensando se realmente é de ti, do meu pai, de minha mãe,  de Deus, amigos ou irmãos, tamanho é o buraco que pareço carregar dentro de mim
Um buraco vazio e ao mesmo tempo pesadíssimo e carregado de nada.
Não sei se esse nada são nada mágoas ou
lágrimas, tristezas, abandonos ou simplesmente a falta do que não vivi.
Sinto falta de alguém que não conheço, do abraço, talvez do aconchego.
Das palavras não ditas, dos olhares não trocados, das histórias não contadas, dos risos não ouvidos, sinto falta das brigas que não aconteceram e até das portas não batidas.

Acredite sinto, sinto muito.
Tantos milhares de livros não lidos, dos desenhos e rabiscos que não fiz. Ou das cartas não escritas e confissões nunca proferidas que de arrependimento me fizessem chorar.
Não ter percorrido estradas desertas e visto incontáveis pores do sol. Não ter visto as gotas de chuva escorrendo pelas vidraças, fotos velhas de escola e  espinhas no nariz. 
Sinto falta do beijo roubado ou do baile dançando colado que nunca  aconteceu.
Olho no espelho e pergunto ao reflexo : quem és tu? Ilustre desconhecida de uma vida não vivida.... 
Prazer, vamos conversar.